terça-feira, 23 de agosto de 2011

inspiração não é luz. é treino.

Um sorriso acanhado, uma timidez controversa
Noite quente de inverno, querendo aquecer um solitário coração
Nuvens da Lapa não podem te proteger de uma ensolarada promessa de desejo inesperado
Trilhos descarrilham de nervosismo rumo a Santa Teresa
Saudade só existe no bom e velho português
é o sentimento nas horas vagas.
Em mares profundos me lancei, como um mergulhador desbravador
Jogado ao deus dará em fortes correntes oceânicas
Desprotegida em tormentos com ondas e tempestades
Lua reluzente,
nua novamente.
Sobre colchões de cabelos
em um emaranhado de sorrisos
a nomenclatura da felicidade duradoura
até o primeiro raio de chuva surgir
vai o corpo, fica a alma
Esse soul que embala os sentidos
e transparece no olhar
visível até aos mais despreocupados
O bonde desce levando toda a graça
Misturando-se ao caos de vozes e humanos
quero a minha paz de volta
dentro da caixa
que esconde portas que abrem sozinhas
e janelas que transpassam um frio excitante
que logo serão esquecidas
por um surto de calor.
Culinária, cinema, artes, política
os meios justificam o fim
que mal se sabe por onde começou.
E quem se importa?
No fundo todos somos um composto de vontades
enganados por ideais trôpegos
resignados a coincidências, destinos e outras desculpas absurdamente esfarrapadas
estagnados pela etiqueta, moral e bons costumes
quero um espírito livre
com o coração enlaçado
porque o autoritarismo romântico é necessário.
Após toda a resistência
quem diria
a Lapa voltou a ser o meu refúgio.
Mais um pouco, caio em um reduto artístico
que promove o meu contentamento, o meu silêncio
algumas horas de sono
e piadas espontâneas.
Tentativas em vão de pisar no freio,
acelerando cada vez mais,
prejudicial ou não,
deixemos a matemática, as exatas, as probabilidades e estatísticas de lado
e vamos fluir por pedras de paralelepípedos molhadas ao amanhecer
escorregadias pelos belos carvalhos da madrugada
que nos olham através da sua janela
que reflete o que queremos
e revelam a nossa verdade,
desnuda e simples,
amargurando sempre o mesmo anseio explícito:
a expectativa ávida do próximo encontro.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O último. Post*.

Peço perdão a mim a cada partida, por agir sempre do mesmo jeito
Acontece que cada vez dói menos ou, às vezes, nem chega a doer
Coração calejado e frio, acostumando-se com o mal
Nem tampouco me refugio em lágrimas, sob pretextos e mais subterfúgios
Não é uma questão de pessimismo, talvez eu não tenha mais um espírito indulgente
Ou paciência para esperar
Optando sempre por cortar o mal pela raiz
Deixando o sadismo para os fetichistas, porque jamais insistirei para ouvir aquilo que não quero escutar
Hipocrisia? Talvez amor próprio.
Meu humor varia como um exame de eletrocardiograma
Então eu bebo, porém sou traída pela embriaguez
O som agita minh'alma, enfurece os meus sentidos
E um silêncio profundo domina o meu peito
Causando a pequena sensação de impotência
Fraquejando cada vez mais
Envolvendo-me cada vez menos
As noites são fraudulentas e ilusórias
Posto que são apenas... Noites.
Uma vez que ela persista, não se engane
uma Hora você vai dormir. e acordar.
E os sentimentos hão de baldar.
E com o passar do tempo você perceberá que não passa de uma estrutura humana frágil, como um castelo de cartas.
E que o mesmo tempo que cura, é o tempo que castiga
Retalhando a imagem que tem si, aguardando respostas de casos irresolúveis
Indeléveis naquele instante infinito
Não sei se é o melhor conselho, mas leve o seu orgulho até o fim, se achar que não vale a pena lutar.
Se optar por passar por cima dele, não o leve com muita obstinação
Uma, duas vezes, no máximo. É o limite tolerável.
Aceitar a derrota e sair com dignidade é louvável. Vencer pelo cansaço e pela apelação é patético. Repugnante.
Você pensará muitas vezes em seduzir, é sempre uma garantia
Mas não é algo que vai fazer com que o sentimento ressurja ou perdure
Entenda: isso é a vida e não um carma
O foco é transcender sem deixar nenhum rastro, nenhum resquício
E continuar nessa estrada, sem pensar no amor ou seja lá qualquer sentimento relativo a tal
Como um infausto, que só serve para trazer infelicidade
Seja fiel a si mesmo e diligente com o discurso dos outros.
Seja esforçado e apenas siga.
Feliz.
Assim como estou.


* último post aqui no Blogger. WordPress é a meta atual, por enquanto sem divulgar endereço.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Essas tais divergências.

Tira a última peça, uma velha camisa de malha, entra e fecha as portas. A água escorre refrescando o corpo cansado de mais um dia de rotina. O aparelho de som toca improvisado no chão, ao lado das roupas sujas e desprezadas. Impaciente, abre o box para pular a música e o vento frio que entra pela janela contrasta com o corpo já aquecido pela ducha. Gotas caem do seu cabelo molhando o chão e, passada a faixa, arrepiada pelo frio, salta com rapidez para debaixo do chuveiro. Começou a ensaboar delicadamente a sua pele, fechou os olhos e imaginou suas mãos percorrendo o seu corpo. Estava insegura com a possibilidade de se apaixonar de novo. Estaria pronta? Talvez sim, partindo do pressuposto de que estava enfim livre do seu passado, sem nenhum vestígio de rancor. Talvez não, pelo seu passado ser um tanto quanto recente. Porém sentia sua alma inquieta, carente de qualquer sentimento que fosse. De todos, o apreço maior pela paixão. Entregar-se ou não. Seu cérebro oferece resistência. Em certos instantes, aceita feliz um papo e outro de vez em quando, alguns encontros esporádicos e uma enorme tensão sexual. Por outro lado, fica apreensiva sempre esperando a hora em que vai surtar e jogar tudo para o ar.
- Apenas relaxe - pensa.
Está despreocupada demais, mal consegue se reconhecer. Está gostando (muito), mas talvez tenha aprendido a lição e esteja vivendo "tudo o que há para viver", livre de pressões, brigas e lágrimas. Falando em lágrimas, ela não quer mais misturá-las à água que lava o seu rosto, como a que descia naquele momento. Terminado o ritual, ela pega a toalha e olha as horas: está atrasada. Sem se apressar, ela passa a mão no espelho para desembaçá-lo e vê sua imagem serena refletida.
Quer ela essa paz fria e conformista, ou prefere a vida agitada de um coração sempre acelerado?





continua...

sábado, 12 de março de 2011

Isso é uma indireta.

eu cometo atos impensados
e sinto um apavorante vazio em meu peito
eu e os meus fantasmas
angústia, ansiedade, orgulho
eu ajo de maneira comedida
sendo covarde comigo mesma
privando- me de um presente
iludindo- me com algum futuro
como se fosse possível montar uma escala de sofrimento
e não entender que sofrer menos já é sofrer
e me pergunto "por que não?"
e a seguir "e por que sim?"
então, perco o fio da meada sem chegar a lugar algum
o meu querer devia ser levado mais em conta
mas essa racionalidade me ataca como um inimigo em guerra
não há nível etílico que me tome
nem argumentos freudianos sobre o inconsciente
que movam os meus dedos
rumo à realização dos meus desejos
é como se houvesse algum bloqueio em meu cérebro
como se metade de mim fosse oriental e a outra metade, ocidental
abdicar-me em busca de alguma ideologia,
ou entregar- me aos prazeres efêmeros sem nenhum questionamento
minha mente é comunista
meu corpo, capitalista
essa é uma luta que travo comigo mesma
e não há vitória
até que eu supere e dê início a uma nova batalha
sim, eu complico, embaraço e dificulto
a objetividade é algo complexo nessas situações
mas essa complexidade está na minha cabeça
então, se você -
é, você mesmo G. -
ler isso
eu peço apenas que não me questione
e simplesmente diga um Oi
para acalentar minh'alma
e acalmar o meu espírito inquieto
tão necessitado de aventura.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Outro Lado.

Mãe e filha sozinhas em casa. A matriarca varre o chão e sua caçula recolhe os jornais do chão. Conversam sobre a primogênita e seu caso amoroso:

- Não entendo. As atitudes dela não condizem com o que ela diz. Ela reclama, diz que vai agir de tal forma, mas quando eles se falam, ela parece esquecer de tudo e acaba passando por cima.

Sua mãe parece concordar com os olhos e ela prossegue:

- Ela me disse esses dias que eu sou uma pessoa difícil. Mas oras! Eu tenho apenas orgulho! E digo isso porque já tive sim o meu orgulho ferido. Se tem algo que eu posso afirmar é que já sofri, já chorei e já procurei. Me permiti isso uma única vez na vida e dou a minha palavra que não farei mais.

Sua mãe some do seu campo de visão. Entrou no quarto e apesar do barulho da vassoura, segue ouvindo:

- Avaliando os dois últimos anos que passaram, mãe, eu sinto como se minha vida tivesse ficado estagnada. Não guardo rancor e nem dívidas amorosas, afinal, continuo falando com eles, mas eu sinto como se eu tivesse ficado em coma durante esse tempo. Um ano para cada um. Passava os dias deprimida, chorando pelas esquinas, perdi a vontade de fazer as coisas, eu era apenas uma presença física nas aulas da faculdade.

Ela volta, fica parada na porta olhando para ela, com o braço apoiado no cabo da vassoura, como se naquele momento ela pudesse penetrar nos pensamentos - até então tão obscuros - da filha.

- Depois disso, eu prometi a mim mesma que não vou mais sofrer por qualquer homem que seja, mãe! Quem quiser, que venha até mim. Lembra a adolescente que eu era? Estou recuperando aquela confiança que eu tinha. Vou tratar cuidar da minha vida, porque ninguém pode fazer isso por mim.

- Essa é a minha filha! - esbravejou a mãe sorridente, levantando a vassoura.

Pela primeira vez ela sentiu que sua mãe sentia orgulho dela. Isso a estimulou a seguir em frente, afinal, seus pais foram os grandes responsáveis por esse pensamento de liberdade amorosa e ela muito os admirava por ter sido criada dessa forma. Enquanto esteve apaixonada e perdeu o amor próprio, ela se sentia uma filha traidora. Felizmente ela reencontrou o seu caminho, ainda aos vinte e poucos anos.

- É possível amar sem enlouquecer. O amor traz saúde e não enfermidades, mãe. Não estou desistindo dos homens, eu ainda os quero, com toda paixão desse mundo. Eu só busco honestidade neles, mas não encontro. Quando eu encontrar, por ele eu irei lutar. Eu vejo as mulheres e me sinto envergonhadas por elas. Eu me sinto desonrada, humilhada. A maioria é tão tola, mãe! Dá para entender? Me fala! Do que adianta independência financeira, se ela tem dependência emocional?

Ela senta sobre a mesa, assistindo sua mãe voltando a varrer:

- Enchem a boca para falar "Meu Namorado! Meu amor!". Sabe o que dá vontade de falar, mãe? "Minha linda, acorda! Seu namorado pode até gostar de você, mas ele não te respeita. Ele pode dizer que te ama, mas isso não é verdade. Ele me procura até hoje. Quer ver alguns torpedos no meu celular?". Eu acho isso muito deprimente, triste mesmo. Mesmo gostando, eu pulei fora quando senti que não estava sendo tratada com respeito. Eu não acredito em fidelidade, mãe. Perdoaria sim e por que não? Mas eu ficaria de olhos bem abertos e a pessoa jamais teria a minha confiança de volta. Eu acredito em ingenuidade sim, eu sou ingênua. Mas cega eu não fico. Não mesmo!

Ela subitamente interrompe a conversa e sai. Sentiu-se deprimida após o monólogo.
No outro dia acorda loucamente feliz. Ri de si própria ao olhar o espelho e falar:

- Sua bipolar!

Ela teve um sonho erótico e acordou com vontade de transar. Ela saiu, comprou brincos novos, foi paquerada pelo motorista do carro ao lado.

- Que se foda.

Chegou em casa, ligou o som dentro do banheiro e tomou um banho libertador. Música alta, ela fazia o backing vocal de "Otherside", do Red Hot Chili Peppers, como se fosse a música mais alto astral do planeta . Saiu, penteou o cabelo, colocou o novo par de brincos, vestida com short e camiseta e afirmou:

- É. Estou feliz. Eu sou uma mulher feliz.

Virou as costas e voltou para sua solidão.




quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Comunicado destinado a ninguém.

Vou ser curta e grossa, como de fato sou. Esse lance de ficar embromando e tentando escrever palavras que soassem bem, acabou. Por tempo indeterminado. Pelo seguinte motivo:

Então, durante esse tempo em que escrevi no blog, eu estive muito, mas muito apaixonada, o que me dava inspiração para sentar em frente ao computador e escrever - principalmente - sobre amor e sexo. Mas daí que a paixão passou, logo o sentimento romântico também acabou. Nem falarei sobre o sexo, porque isso sim foi - e sempre será - a maior perda. O fato é que hoje eu tive um diálogo libertador com uma certa pessoa e, nesse exato momento, fiquei com uma vontade louca de me expressar ainda mais. Como de praxe, esse blog é a minha fuga. Minha irmã e o "anônimo" - que sempre comenta os meus posts - me lembraram esses dias que eu criei esse bagulho. E aqui estou, novamente, para escrever as besteiras que eles não se cansam de ler.

Embora seja um caso interessante para ser colocado "no papel", não vou deliciá-los com detalhes sórdidos da minha fatídica e mal sucedida história de 'des'amor. O fato é que me abalou, digamos que, por uns dois segundos e depois eu vi que já estava perdendo muito tempo com essa palhaçada toda. Logo, escrever sobre isso aqui, seria mais perda de tempo ainda.

Tudo bem que eu andava escrevendo uns contos meio alheios, mas não é preciso ser muito esperto para entender que ali, eu estava criando uma ficção para uma personagem autobiográfica. Então não se espantem: eu sou moderadamente melancólica, altamente intensa e um pouquinho pervertida. E não tenho vergonha de ser assim. Não serei sempre alegre, sensata e recatada porque dessa forma serei aceita com mais facilidade. Se isso fosse algo que tivesse que ser corrigido, seria um problema porque eu já tenho 22, quase 23 anos de idade. Não tenho mais tempo e nem paciência para ajeitar os parafusos soltos. Compreenda-me se for capaz, porque eu mesma já desisti. Como a minha mãe vive cantando para mim...

"Eu sou assim.
Quem quiser gostar de mim,
eu sou assim."


Beijos e até breve, espero.



ps: e que esse 'breve' não esteja relacionado a assuntos sentimentais.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

whatever.

Na vitrola, um Jazz acelerado. A sala ainda cheira a sexo. Bebe um longo gole de cerveja importada, liga a televisão e observa o repórter jorrar palavras embaralhadas acerca das infintas tragédias humanas ao redor do mundo: guerras, desastres ambientais, homicídios, política, opressão, repressão, escravidão, leis, burocracia, injustiça, cinema nacional, etc.


- Pobre sociedade infame.


Ela sai do banheiro usando sua velha camisa de malha e senta ao seu lado, esticando as pernas e colocando-as em seu colo. Bebe da sua cerveja, acompanha a notícia por alguns segundos e comenta:


- Tem alguma coisa para comer?


- Tem. Na geladeira.


Então ela levanta e caminha em direção à cozinha deixando um leve rastro do seu doce perfume no ar.


- Estou faminta. Vou fazer algo para nós.


O mundo se despedaçando e ele naquele vazio de idéias e acontecimentos. Sua existência estava restrita a ser um ninguém em lugar nenhum, ao lado de sua bela companheira, que pouco lhe acrescentava.


Levantou-se e foi buscar mais uma garrafa de cerveja. Pegou e parou para observá-la cortando rodelas de tomate. A gola da blusa, cortada, deixava seu ombro à mostra. Aproximou-se, ajeitou delicadamente a blusa e lhe deu um beijo. Ela riu, bebeu mais um pouco da sua cerveja e voltou aos tomates. Volta ao sofá e pega o jornal para ler: crise econômica, corrupção, acidentes, futebol... O filme que ele quer assistir ainda está em cartaz:


- Dessa semana não passa - pensa, tentando se enganar.


Ele sempre adia. Filmes, projetos, trabalhos, viagens, amores. Fica sempre a esperança de que um dia será. Mas os dias nunca chegam e para ele, tanto faz. Ela volta, os dois comem ferozmente. No fim, louça para os lados, pernas para cima.
Ela era mais um a sentar naquele sofá, a abrir aquela geladeira e a mexer com seus sentimentos. Provavelmente não seria a última, estava longe de ser a última. Apesar da sua racionalidade, não entendia como e porque ela conseguia deixá-lo tão irracional e confuso. Não queria isso para si, mas não conseguia se desvencilhar daquele sentimento com a proximidade dela. Pensava se ela era A mulher, sua esposa, mãe dos seus filhos. Mas oras! Ele nunca pensou em construir um lar, uma família. Estava, então, verdadeiramente apaixonado.
Olhou para ela, que limpava os dentes com a língua:


- O mundo girando e a gente parado.


Sem entender, ela respondeu, tirando a sua velha camisa:


- Então que tal sentir o mundo parar enquanto a gente se movimenta?


- Eu te amo - pensou.


E não tardariam a sentir fome outra vez.

sábado, 17 de julho de 2010

Quartetos sem Fim - homenagem a Karen.

s14 não se esqueça
altura do Palazzo por favor
apesar dos problemas do Rio
Campinas ainda é um horror.

saltos descem a escada
choperia brazooka ou circo voador?
primeira vamos dar uma olhada
no samba na rua onde fica o fervor.

primeira lata de cerveja
mãos para o alto, um brinde à amizade
somos todos grandes amigos
em uma união desprovida de vaidade.

bonita e sensual
o que é dela, está em São Paulo
estou com medo, pois não tenho permissão
para falar o nome dele, seu homem, que se chama Saulo.

superaram as barreiras
agora eles têm história para contar
passaram uma borracha nos problemas
e resolveram, enfim, se casar.

pelo msn ela conta
os 'causos' tim tim por tim tim
vida a dois é complicada
mas não para uma história de amor sem fim.

dona de uma personalidade forte
você pode amar ou odiar
essa mulher se chama Karen, meu amigo
amiga como ela é difícil encontrar.

não sei escrever poema
isso está mais mais parece cordel ou coisa de repentista
as palavras são tantas e no escuro estou
que a claridade do monitor me faz doer a vista.

estou escrevendo isso
para massagear o seu ego leonino
agora me apresente alguém de campinas, mulher!
pode ser idoso, jovem ou até algum menino.

vou ficando por aqui
as rimas estão começando a desandar
voltando no 398 bêbada, da lapa
bangu está chegando, acorde a menina, ELA PRECISA DESEMBARCAR!

domingo, 4 de julho de 2010

Tenha dó de mim,

pobre coração que agora só quer saber de amar. Durante anos eu fugi e me escondi desse sentimento. Que grande erro! Melhor seria se eu tivesse permitido que ele entrasse de maneira mais natural na minha vida. Porém eu me enganei e, no susto eu já estava lá derretida e caída aos pés do meu primeiro amor. Passou e depois veio outro e agora, mais outro. Assim não há ser humano que aguente. Saudades dos príncipios da minha adolescência, onde eu acreditava que amor era o sentimento que sentia apenas pelos meus pais e minha irmã, que nenhuma outra pessoa sem vínculo sanguíneo despertaria isso em mim. Agora estou aqui malfadada e condenada a essa coisa, que não tem forma, que não se vê, mas se sente, que machuca. Não quero ser intensa, não acredito que exista ninguém merecedor do meu amor e da minha entrega, mas por que cargas d'água eu me sinto mais viva assim? O que há de tão fascinante nessa algema imaginária que me prende à outra pessoa? Por que não há uma razão ou lógica que prevaleça e me preserve de tanta angústia? Eu sou apenas destroços de amores que não pude viver, seja pela minha vontade ou pela vontade dos outros. Aliás, esse é o meu grande problema: amores inconciliáveis. Alguém concebe a idéia de se apaixonar pelo seu ex, que você desprezou há quatro anos atrás? É o que eu mais temo, me desespero só em cogitar a hipótese. Mas eu estou com mania de amar, não tenho como evitar. Se não for ele, será outro. Um maldito círculo vicioso. A roda da vida, o motor que me mantém ligada. A eterna espera. Pobres poetas românticos que se suicidaram quando descobriram que o amor não é composto apenas de ternura. Hoje em dia, não existiria o trágico fim de Romeu e Julieta. Shakespeare faria deles amantes. E pobre do Noel Rosa que chorou ao ler a carta da Dama do Cabaré, onde ela dizia que "quem é da boemia usa e abusa da diplomacia, mas não gosta de ninguém". O amor é boêmio, malandro e enganador. No fundo, efêmero. Etta James cantou que preferia ficar cega a ver o seu homem ir embora. Goya se isolou e entrou em sua fase negra ao perder o seu grande amor. Histórias de amor bem sucedidas são poucas. Amy Winehouse morrereia por ele e hoje quer apagar seu nome tatuado no lado esquerdo do peito. Piaf disse que o amor é 'uma triste maravilha'. Por Arlindo Cruz, Maria Rita se questiona por que recebe menos quem mais tem para dar? Por que é que tem que ser assim? Nelson Cavaquinho disse que o sol não pode viver perto da Lua. Pobre Carlitos que sempre sofria pela mocinha nos filme de Chaplin. “Mas o amor não existe para fazer a gente feliz?", perguntou Charlie Brown, vulgo Minduim. Raulzito gritava que quando jurou o seu amor, traiu a si mesmo e ainda afirmou que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez.
O amor é um sentimento universal. É contraditório. É a esperança. Lágrimas escorrendo pelo rosto. Deveria ser obrigatório na passagem de cada um pela Terra, porque é algo um não pode falar pelo outro. É peculiar, pessoal e intransferível. É simplesmente Amor, responsável pelas maiores alegrias e tristezas. Que te faz sentir vivo e morto. Que não sei explicar, então o que me resta é a lamentar. Tenho fé em Paulinho da Viola, que sussurra todos os dias no meu ouvido através do fone do mp3:
"Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar"

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Em tempos de felicidade...

... tudo é tão lindo, o céu fica mais azul, os pássaros pousam sobre as janelas e nos enfeitiçam com os seus belos cantos, o ar fica mais puro, o céu parece ficar mais estrelado, a lua ilumina mais a Terra. É quando colocamos a cabeça no travesseiro, para dormir, e ficamos horas olhando fixo para o teto, pensando em como é bom não ter nada para pensar, até perceber que não consegue dormir, que você não quer dormir, desejando que o tempo congele naquele instante. É se dar conta de que está com um discreto sorriso de contentamento no rosto, por motivo algum. Ver o mundo colorido, enxergá-lo sob perspectivas mais otimistas. Sentir-se membro do universo, saber que é humano, fisíco, palpável, com idéias e pensamentos, o que faz de si um ser dotado de sabedoria e inteligência, independente da sua sua escolaridade, porque você vive, presencia, você simplesmente É. é Ter perspicácia a ponto de errar e saber que certas coisas são contornáveis. Aliás, é essa sagacidade que nos leva a esse momento de transe, de visão utópica.
Mas... Até quando isso é bom?
E quando os dedos dos pés tocam levemente o chão, nos despertando desse sonho? Os problemas reaparecem, você se sente diminuído, que não acrescenta em nada e sente que está no mundo a passeio? Oh! mas convenhamos! Ser realista não é nada mau! Há quem se leve a sério demais. A aflição, a solidão e a tristeza também constituem um homem. Também faz com que sejamos reais e seres do mundo. Uma lágrima de tristeza está para um sorriso de felicidade. É Emoção. O sentimento mais controverso da natureza humana. A vida gira em torno dessa dualidade e - por que não - dessa nuance existente entre os que se opõem: alegria e tristeza, amor e ódio, consolação e desolação, preto e branco, pop e o rock, etc. É existir e não ter medo de Sentir. Se permitir e não se enganar. Acreditar nos seus ideais e ter noção dos obstáculos e restrições; ter ilusão e saber da improbabilidade. Sentir-se vazio em um ambiente intelectualmente abundante. Saber que às vezes não poderá fazer nada, porque para a maioria das coisas somos inúteis. Ver e não poder fazer, ter e não poder dar. Tudo nos legitima, nos faz ser o que somos.
Essa busca incessante das pessoas de se firmarem como algo ou alguém, de se personificarem, criam estereótipos, seres rasos, superficiais. É preciso dar vazão, se expôr, se isolar e se libertar.
É saber ser, saber refletir, saber existir, saber deixar fluir. Talvez o verbo Saber seja a grande questão. É só Saber cultivá-lo.

sábado, 12 de junho de 2010

O que diria Platão?

Vou falar baixinho porque é segredo. Essa semana esbarrei com ele pelo corredor da faculdade. Meu Deus, desculpe a heresia em invocá-lo nesse momento, mas como ele é sensual! Meu corpo todo gela quando os nossos olhares se cruzam e, ao mesmo tempo, eu me sinto como um vulcão entrando em erupção. Ele iluminou o meu dia, tirou o tom sépia que embaçava a visão, colocou nuvens sob os meus pés, para que eu me sentisse no céu. Pobre coração que não é nada sem ele. Só bate forte quando ele está por perto.
Quando ele passa, eu desejo que o seu perfume fique impregnado na minha roupa, para que eu possa sentir aquele aroma doce durante todo o meu dia. Quando ele passa, tudo silencia e a única coisa que ouço é a minha respiração ofegante, reflexo do meu desejo de ser notada. Quando ele passa, aquele instante se torna único e eu tiro uma foto com os olhos, para que eu não esqueça o tom do jeans que ele estava usando, as listras verticais da sua camisa social e a armação retangular dos seus óculos de grau.
Suas mechas brancas contradizem com seu belo corte jovial e seu alegre jeito de andar pouco lembra aquele homem reservado e calado, sempre isolado pelos cantos. A sua mão é inquieta, seja coçando o cabelo, seja batendo os dedos na parede enquanto caminha. Ele é observador, embora muitas vezes se encontre com olhos fixos em alguma coisa. Esse jeito incoerente dele de ser, me deixa ainda mais instigada. Ele é um mistério, como a existência de Deus, como a cura da AIDS, como a ida do homem à Lua. Ele é um pesquisador de Artes e eu sou pesquisadora do seu Ser. Não quero dinheiro por tê-lo como objeto de estudo, almejo apenas um olhar, que desencadeará ainda mais material e questionamentos para a minha tese ultra secreta, escrita e elaborada todas as noites, na cama, de olhos fechados, antes do meu sono inimigo tirar a sua imagem da minha mente insana, louca de paixão.
Quando acordo, sei que um novo dia insosso me espera. Meu corpo se enche de esperança quando me pergunto:

- Será que hoje ele estará pela faculdade?

domingo, 6 de junho de 2010

Crônica de uma vida sem sentido.

Ainda era madrugada quando despertou. Sonhou que ele dormia ao seu lado. Olhou o celular, nenhuma mensagem. Levantou-se com a idéia de ir ao bar mais próximo, colocou seu sobretudo por cima do seu pijama - uma camisa de malha e uma calça de moletom - e desceu os três fétidos andares do seu prédio, na esperança de encontrar algum movimento na gélida calada da noite. Andou alguns metros até perceber que não encontraria nada aberto pela redondeza, mas resolveu seguir em frente, uma vez acordada ela não voltaria a ter sono tão cedo e também não gostava das lembranças que sua lucidez trazia à tona, quando estava sozinha em seu apartamento. Caminhando pela rua, asfalto úmido e escorregadio, ela tentava endender a razão de ter chegado até ali. Como consegiu chegar ao fundo do poço? Fez sinal para o ônibus e ao sentar no banco, viu o reflexo do seu rosto fino e com olheiras na janela e pensou que já era hora de tomar um rumo na vida. Os outros dois passageiros ali também refletiam o seu estilo de vida, jogados ao nada, como se o destino deles estivesse nas mãos do motorista, que os levaria ao bar mais próximo ou ao fornecedor mais barato. Abriu a janela e acendeu o último cigarro do seu maço. O bar agora era uma necessidade, pois sem cigarro, sua vida faria menos sentido ainda. Quando a fumaça da primeira tragada chegou ao seu pulmão, ela sentiu uma espécie de conforto por não estar em uma situação pior, acompanhado de uma certa tristeza, por não estar em uma situação melhor.
Ela tinha a mania de encarar as coisas em diferentes distâncias fora do ônibus em movimento: queria que a vida passasse ligeiramente como uma árvore a alguns metros do ônibus, mas ao contrário disso, ela se arrastava como a chegada de um arranha céu do outro lado da cidade.
Avistou um movimento qualquer na porta de um bar, deu sinal de desceu do coletivo. Foi até o balcão e pediu uma dose de rum. Comprou outro maço de cigarros barato e após outras doses, sentiu um certo otimismo tomar conta de si. A essa hora não existia melhor ou pior, ela se sentia no centro do universo. Sentia-se invejada pelos os que estavam ali, embora ninguém tivesse notado a sua presença. Quando ficava embriagada tinha a falsa ilusão de que a vida sem ele seria melhor, embora relutasse em voltar para casa a todo instante. Sabia que ali, como em todas as suas noites tristes e solitárias, encontraria outro que ocultaria o vazio existente em seu coração, mas que a esperança e o calor trazidos por ele, partiriam do seu quarto, no fim da manhã. Como sempre. Na inocência da sua humildade, desejava apenas um novo amor. Não queria um bom emprego ou uma apartamento maior, sem infiltrações e rachaduras. Sua vida não estaria completa sem alguém ao seu lado. Seria útopico ter todas essas coisas, então ela desejava o que considerava mais difícil. Sua obstiniação pelos bens materiais só surgiria se ela estivesse afetivamente feliz, caso contrário, ela considerava a insalubridade como a melhor forma de viver e conviver com a solidão. A embriaguez lhe tirava essa perspectiva miserável mas, ao acordar, sempre na pior das ressacas, ela desejava não estar viva. Pensava que se existisse algum Deus, não entenderia a razão dele de tirar a vida de certas pessoas e a mantê-la naquela vida desprezível, decadente. Não acreditava que tinha uma missão ou que algo melhor estava guardado para ela.
Ela acorda, olha e sacode o desconhecido adormecido em sua cama, levanta, toma uma aspirina, abre a geladeira, pega uma lata de cerveja e acende um cigarro. O desconhecido levanta, coloca sua roupa, passa por ela e diz um "tchau" constrangido. Ela não responde. Da janela observa que o bar está abrindo e, ao lado, vê que o cigarro está acabando. Ela está pressupondo que a sua noite irá começar mais cedo dessa vez.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Luxúria.

Ela o amava por inteiro. Da sua voz até os seus grandes e estranhos olhos castanhos. Gostava da maneira como andava, de como ria, de como se comportava quando estava com raiva. Apreciava até os seus defeitos. Um dia então, ela se viu sem nada disso e por um bom tempo as lágrimas tomaram conta do seu rosto por noites e mais noites afora. Quando a ferida começou a cicatrizar, ela começou a se dar conta do que realmente sentia falta: ela gostava de quando tocava com seus dedos quentes o seu corpo frio, do seu comportamento devasso, da sua respiração ofegante, as sacanagens sussurradas, da libertinagem entre quatro paredes. Gostava da dramaticidade do ato, da sua performance, da sua entrega. Ah! Ele era um artista! A cama era um palco ou uma tela em branco e ele estava sempre inspirado. Ali não havia Shakespeare ou Pollock. Ele era insuperável em sua arte. O suprassumo do prazer. Sua rigidez era inabalável e sua desenvoltura impecável. Curioso, explorava cada centímetro do frágil corpo dela e, a cada despedida, seu corpo implorava pela volta dele. Ela só queria estar com ele. Gostava de encará-lo de diversos ângulos. Ele ficava mais bonito visto de cima. Isso quando ela estava de olhos abertos. Gostava de espiá-lo nos momentos de transe, ali ela se sentia ainda mais apaixonada. Gostava de deixar o seu homem daquele jeito. Queria sugar toda a sua energia, para que ele não se sentisse atraído por mais ninguém, mas esse feito era impossível, já que seu vigor não tinha fim. Era viril como um Deus Grego, apesar da sua aparência banal. Quando chegou ao fim, ela acreditava que faltava afeto. Agora ela sente que isso nunca existiu de fato, porém, o que manteve a paixão até o fim foram aqueles momentos carnais, que ela jamais teve com nenhum outro homem. Ela virou refém do seu próprio corpo, que o desejava cada dia mais. Ela repudiava a si mesma por pensar daquela forma, por vê-lo e por ser portar como um objeto. Mas no fundo ela não queria ser para ele outra coisa, porque ele gostava muito, mas muito do seu jeito despudorado. Sim, ele a salvou, porque ela era um caso negado e perdido, malfadada até a morte: nunca amou, nunca foi amada e, muito menos, se sentiu desejada. Também nunca havia desejado alguém com tanta fúria e paixão. Porém as paixões são efêmeras, mas o impulso da carne prevalece.
Cada encontro emerge a sensação que um precisa do outro, mesmo que por diferentes motivos. Assim será até que outro surja, preenchendo a lacuna que ainda não foi preenchida: a de fazer com que ela se sinta amada. Até que isso aconteça, ela continuará alimentando os seus instintos e realizando os seus desejos mais secretos com ele, que sequer sabe do turbilhão de emoções e sensações que causou - e ainda causa -, reflexos de atos tão imorais, porém triviais. Atos esses já conhecidos por ela, mas realizados de maneira tão obsoleta que beiravam o vulgar de tão mal executados. Ela descobriu, enfim, o prazer. O prazer da vida. O prazer de viver. Ao mesmo tempo, ela sabia que merecia alguém muito melhor.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Autoexplicativo...


... entende?
* tira do Allan Sieber.

sábado, 15 de maio de 2010

Para Casa.

Como só esse blog me inspira - embora muito pouco - irei usá-lo para fazer o meu trabalho de casa de uma disciplina da faculdade: escrever, em forma de conto, um acontecimento ocorrido no dia da convocação dos jogadores que irão para a Copa. Vai ser muito, mas muito fácil, porque aquele dia foi Uó para mim...

p.s.: esse texto está longe do ideal, do que eu vou entregar ao professor. É só um esboço mesmo.

Convocação? E quem se importa?

"É. Mais um dia de rotina. Meu dia já começa dentro de um ônibus. De pé às 5h30 partindo rumo ao campus da UFRJ na Praia Vermelha. Duas cansativas horas em pé para, enfim, descer na Central e me juntar às outras milhares de pessoas que silenciosamente anseiam pelo fim de suas respectivas jornadas. Naquela semana, as minhas 168 horas estavam contadas e o meu plano de logística foi elaborado especialmente para que eu não chegasse atrasada na auto escola em nenhum dia, visto que eu estava perto de completar as quarenta e cinco (e arrastadas) horas de aulas teóricas e, se eu perdesse uma hora sequer, sabe-se lá quando eu ia terminar. Saio da Faculdade de Educação e parto diretamente para o Fundão para outra aula, quando o professor finalmente chega, Ops! é dia de convocação! Nem Adriano, nem Ronaldinho Gaúcho, nem Neymar e nem Ganso. Grafite? Não sei o passou na cabeça do Dunga, mas sabia muito bem o que se passava na minha: tinha que sair de lá no máximo às 15h30, afinal encontraria ainda muitos obstáculos pelo caminho, como tempo de espera do ônibus, possíveis engarrafamentos, muitos passageiros (o que implica em muitas paradas para embarque e desembarque) e o tempo de caminhada do ponto até o local da aula. Nada foi esquecido, porém, devido a uma infeliz armação do destino, eu saí da aula quase às 16h. Saindo do prédio, não pude acreditar no que meus olhos viam: meu ônibus virando a esquina, partindo sem mim. Começava então uma guerra contra o relógio. Como Forrest*, eu corri, peguei o ônibus interno da cidade universitária desci no meio do caminho, atravessei a rua e... Ponto para mim! Fui mais rápida que o motorista da Viação Bangu. Comecei a acreditar que tudo daria certo quando sentei no último banco vazio do ônibus. Eu era só felicidade ao ver que a Linha Amarela não estava engarrafada. Como um boneco Playmobil, nada tiraria o sorriso do meu rosto. Foi o que eu pensei. Faltando cerca de vinte minutos, um inesperado engarrafamento na av. Brasil, destruiu tudo o que eu havia planejado. Teoricamente a aula começava às 18h, mas o instrutor dava uma tolerância de dez minutos para colher a digital dos atrasados. Passei a rezar para chegar dentro desse limite. 18 horas e 10 minutos. Desci do ônibus. Como Lola**, persistente e determinada, corri cerca de três quilômetros até a linha de chegada. Subi os dois andares de escada, pulando um degrau. Ao chegar, me deparei com o instrutor. Segurei em seu ombro para me escorar:
- Fechou?
- Fechei – disse ele, sem mostrar nenhuma comoção ao me ver naquele estado deplorável.
Sensibilizada com a minha própria derrota, não consegui conter o choro. Chorei de raiva e por até então nunca ter dado valor ao tempo. Aquele minuto se transformou em uma hora perdida. Aquela hora transformou-se em semanas.
Contrariando todo o meu sentimento de revolta, eu consegui, além de tirar uma lição de moral dessa história e de me motivar a tirar de vez a carteira (os transportes públicos estão acabando com minha saúde física e mental), concluí também que, embora pareça às vezes que o mundo está conspirando contra você, ele apenas tenta mostrar as coisas de uma maneira mais complicada e dolorosa. Devido a um problema no sistema do DETRAN, algumas digitais não foram colhidas no dia. Na sexta seguinte, eu pude enfim, recuperar o meu atraso."

*Personagem interpretado por Tom Hanks, no filme Forrest Gump.
** Personagem interpretada por Franka Potente, no filme Corra, Lola, Corra.