Um sorriso acanhado, uma timidez controversa
Noite quente de inverno, querendo aquecer um solitário coração
Nuvens da Lapa não podem te proteger de uma ensolarada promessa de desejo inesperado
Trilhos descarrilham de nervosismo rumo a Santa Teresa
Saudade só existe no bom e velho português
é o sentimento nas horas vagas.
Em mares profundos me lancei, como um mergulhador desbravador
Jogado ao deus dará em fortes correntes oceânicas
Desprotegida em tormentos com ondas e tempestades
Lua reluzente,
nua novamente.
Sobre colchões de cabelos
em um emaranhado de sorrisos
a nomenclatura da felicidade duradoura
até o primeiro raio de chuva surgir
vai o corpo, fica a alma
Esse soul que embala os sentidos
e transparece no olhar
visível até aos mais despreocupados
O bonde desce levando toda a graça
Misturando-se ao caos de vozes e humanos
quero a minha paz de volta
dentro da caixa
que esconde portas que abrem sozinhas
e janelas que transpassam um frio excitante
que logo serão esquecidas
por um surto de calor.
Culinária, cinema, artes, política
os meios justificam o fim
que mal se sabe por onde começou.
E quem se importa?
No fundo todos somos um composto de vontades
enganados por ideais trôpegos
resignados a coincidências, destinos e outras desculpas absurdamente esfarrapadas
estagnados pela etiqueta, moral e bons costumes
quero um espírito livre
com o coração enlaçado
porque o autoritarismo romântico é necessário.
Após toda a resistência
quem diria
a Lapa voltou a ser o meu refúgio.
Mais um pouco, caio em um reduto artístico
que promove o meu contentamento, o meu silêncio
algumas horas de sono
e piadas espontâneas.
Tentativas em vão de pisar no freio,
acelerando cada vez mais,
prejudicial ou não,
deixemos a matemática, as exatas, as probabilidades e estatísticas de lado
e vamos fluir por pedras de paralelepípedos molhadas ao amanhecer
escorregadias pelos belos carvalhos da madrugada
que nos olham através da sua janela
que reflete o que queremos
e revelam a nossa verdade,
desnuda e simples,
amargurando sempre o mesmo anseio explícito:
a expectativa ávida do próximo encontro.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
sexta-feira, 22 de abril de 2011
O último. Post*.
Peço perdão a mim a cada partida, por agir sempre do mesmo jeito
Acontece que cada vez dói menos ou, às vezes, nem chega a doer
Coração calejado e frio, acostumando-se com o mal
Nem tampouco me refugio em lágrimas, sob pretextos e mais subterfúgios
Não é uma questão de pessimismo, talvez eu não tenha mais um espírito indulgente
Ou paciência para esperar
Optando sempre por cortar o mal pela raiz
Deixando o sadismo para os fetichistas, porque jamais insistirei para ouvir aquilo que não quero escutar
Hipocrisia? Talvez amor próprio.
Meu humor varia como um exame de eletrocardiograma
Então eu bebo, porém sou traída pela embriaguez
O som agita minh'alma, enfurece os meus sentidos
E um silêncio profundo domina o meu peito
Causando a pequena sensação de impotência
Fraquejando cada vez mais
Envolvendo-me cada vez menos
As noites são fraudulentas e ilusórias
Posto que são apenas... Noites.
Uma vez que ela persista, não se engane
uma Hora você vai dormir. e acordar.
E os sentimentos hão de baldar.
E com o passar do tempo você perceberá que não passa de uma estrutura humana frágil, como um castelo de cartas.
E que o mesmo tempo que cura, é o tempo que castiga
Retalhando a imagem que tem si, aguardando respostas de casos irresolúveis
Indeléveis naquele instante infinito
Não sei se é o melhor conselho, mas leve o seu orgulho até o fim, se achar que não vale a pena lutar.
Se optar por passar por cima dele, não o leve com muita obstinação
Uma, duas vezes, no máximo. É o limite tolerável.
Aceitar a derrota e sair com dignidade é louvável. Vencer pelo cansaço e pela apelação é patético. Repugnante.
Você pensará muitas vezes em seduzir, é sempre uma garantia
Mas não é algo que vai fazer com que o sentimento ressurja ou perdure
Entenda: isso é a vida e não um carma
O foco é transcender sem deixar nenhum rastro, nenhum resquício
E continuar nessa estrada, sem pensar no amor ou seja lá qualquer sentimento relativo a tal
Como um infausto, que só serve para trazer infelicidade
Seja fiel a si mesmo e diligente com o discurso dos outros.
Seja esforçado e apenas siga.
Feliz.
Assim como estou.
* último post aqui no Blogger. WordPress é a meta atual, por enquanto sem divulgar endereço.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Essas tais divergências.
Tira a última peça, uma velha camisa de malha, entra e fecha as portas. A água escorre refrescando o corpo cansado de mais um dia de rotina. O aparelho de som toca improvisado no chão, ao lado das roupas sujas e desprezadas. Impaciente, abre o box para pular a música e o vento frio que entra pela janela contrasta com o corpo já aquecido pela ducha. Gotas caem do seu cabelo molhando o chão e, passada a faixa, arrepiada pelo frio, salta com rapidez para debaixo do chuveiro. Começou a ensaboar delicadamente a sua pele, fechou os olhos e imaginou suas mãos percorrendo o seu corpo. Estava insegura com a possibilidade de se apaixonar de novo. Estaria pronta? Talvez sim, partindo do pressuposto de que estava enfim livre do seu passado, sem nenhum vestígio de rancor. Talvez não, pelo seu passado ser um tanto quanto recente. Porém sentia sua alma inquieta, carente de qualquer sentimento que fosse. De todos, o apreço maior pela paixão. Entregar-se ou não. Seu cérebro oferece resistência. Em certos instantes, aceita feliz um papo e outro de vez em quando, alguns encontros esporádicos e uma enorme tensão sexual. Por outro lado, fica apreensiva sempre esperando a hora em que vai surtar e jogar tudo para o ar.
- Apenas relaxe - pensa.
Está despreocupada demais, mal consegue se reconhecer. Está gostando (muito), mas talvez tenha aprendido a lição e esteja vivendo "tudo o que há para viver", livre de pressões, brigas e lágrimas. Falando em lágrimas, ela não quer mais misturá-las à água que lava o seu rosto, como a que descia naquele momento. Terminado o ritual, ela pega a toalha e olha as horas: está atrasada. Sem se apressar, ela passa a mão no espelho para desembaçá-lo e vê sua imagem serena refletida.
Quer ela essa paz fria e conformista, ou prefere a vida agitada de um coração sempre acelerado?
continua...
sábado, 12 de março de 2011
Isso é uma indireta.
eu cometo atos impensados
e sinto um apavorante vazio em meu peito
eu e os meus fantasmas
angústia, ansiedade, orgulho
eu ajo de maneira comedida
sendo covarde comigo mesma
privando- me de um presente
iludindo- me com algum futuro
como se fosse possível montar uma escala de sofrimento
e não entender que sofrer menos já é sofrer
e me pergunto "por que não?"
e a seguir "e por que sim?"
então, perco o fio da meada sem chegar a lugar algum
o meu querer devia ser levado mais em conta
mas essa racionalidade me ataca como um inimigo em guerra
não há nível etílico que me tome
nem argumentos freudianos sobre o inconsciente
que movam os meus dedos
rumo à realização dos meus desejos
é como se houvesse algum bloqueio em meu cérebro
como se metade de mim fosse oriental e a outra metade, ocidental
abdicar-me em busca de alguma ideologia,
ou entregar- me aos prazeres efêmeros sem nenhum questionamento
minha mente é comunista
meu corpo, capitalista
essa é uma luta que travo comigo mesma
e não há vitória
até que eu supere e dê início a uma nova batalha
sim, eu complico, embaraço e dificulto
a objetividade é algo complexo nessas situações
mas essa complexidade está na minha cabeça
então, se você -
é, você mesmo G. -
ler isso
eu peço apenas que não me questione
e simplesmente diga um Oi
para acalentar minh'alma
e acalmar o meu espírito inquieto
tão necessitado de aventura.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Outro Lado.
Mãe e filha sozinhas em casa. A matriarca varre o chão e sua caçula recolhe os jornais do chão. Conversam sobre a primogênita e seu caso amoroso:
- Não entendo. As atitudes dela não condizem com o que ela diz. Ela reclama, diz que vai agir de tal forma, mas quando eles se falam, ela parece esquecer de tudo e acaba passando por cima.
Sua mãe parece concordar com os olhos e ela prossegue:
- Ela me disse esses dias que eu sou uma pessoa difícil. Mas oras! Eu tenho apenas orgulho! E digo isso porque já tive sim o meu orgulho ferido. Se tem algo que eu posso afirmar é que já sofri, já chorei e já procurei. Me permiti isso uma única vez na vida e dou a minha palavra que não farei mais.
Sua mãe some do seu campo de visão. Entrou no quarto e apesar do barulho da vassoura, segue ouvindo:
- Avaliando os dois últimos anos que passaram, mãe, eu sinto como se minha vida tivesse ficado estagnada. Não guardo rancor e nem dívidas amorosas, afinal, continuo falando com eles, mas eu sinto como se eu tivesse ficado em coma durante esse tempo. Um ano para cada um. Passava os dias deprimida, chorando pelas esquinas, perdi a vontade de fazer as coisas, eu era apenas uma presença física nas aulas da faculdade.
Ela volta, fica parada na porta olhando para ela, com o braço apoiado no cabo da vassoura, como se naquele momento ela pudesse penetrar nos pensamentos - até então tão obscuros - da filha.
- Depois disso, eu prometi a mim mesma que não vou mais sofrer por qualquer homem que seja, mãe! Quem quiser, que venha até mim. Lembra a adolescente que eu era? Estou recuperando aquela confiança que eu tinha. Vou tratar cuidar da minha vida, porque ninguém pode fazer isso por mim.
- Essa é a minha filha! - esbravejou a mãe sorridente, levantando a vassoura.
Pela primeira vez ela sentiu que sua mãe sentia orgulho dela. Isso a estimulou a seguir em frente, afinal, seus pais foram os grandes responsáveis por esse pensamento de liberdade amorosa e ela muito os admirava por ter sido criada dessa forma. Enquanto esteve apaixonada e perdeu o amor próprio, ela se sentia uma filha traidora. Felizmente ela reencontrou o seu caminho, ainda aos vinte e poucos anos.
- É possível amar sem enlouquecer. O amor traz saúde e não enfermidades, mãe. Não estou desistindo dos homens, eu ainda os quero, com toda paixão desse mundo. Eu só busco honestidade neles, mas não encontro. Quando eu encontrar, por ele eu irei lutar. Eu vejo as mulheres e me sinto envergonhadas por elas. Eu me sinto desonrada, humilhada. A maioria é tão tola, mãe! Dá para entender? Me fala! Do que adianta independência financeira, se ela tem dependência emocional?
Ela senta sobre a mesa, assistindo sua mãe voltando a varrer:
- Enchem a boca para falar "Meu Namorado! Meu amor!". Sabe o que dá vontade de falar, mãe? "Minha linda, acorda! Seu namorado pode até gostar de você, mas ele não te respeita. Ele pode dizer que te ama, mas isso não é verdade. Ele me procura até hoje. Quer ver alguns torpedos no meu celular?". Eu acho isso muito deprimente, triste mesmo. Mesmo gostando, eu pulei fora quando senti que não estava sendo tratada com respeito. Eu não acredito em fidelidade, mãe. Perdoaria sim e por que não? Mas eu ficaria de olhos bem abertos e a pessoa jamais teria a minha confiança de volta. Eu acredito em ingenuidade sim, eu sou ingênua. Mas cega eu não fico. Não mesmo!
Ela subitamente interrompe a conversa e sai. Sentiu-se deprimida após o monólogo.
No outro dia acorda loucamente feliz. Ri de si própria ao olhar o espelho e falar:
- Sua bipolar!
Ela teve um sonho erótico e acordou com vontade de transar. Ela saiu, comprou brincos novos, foi paquerada pelo motorista do carro ao lado.
- Que se foda.
Chegou em casa, ligou o som dentro do banheiro e tomou um banho libertador. Música alta, ela fazia o backing vocal de "Otherside", do Red Hot Chili Peppers, como se fosse a música mais alto astral do planeta . Saiu, penteou o cabelo, colocou o novo par de brincos, vestida com short e camiseta e afirmou:
- É. Estou feliz. Eu sou uma mulher feliz.
Virou as costas e voltou para sua solidão.
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