Ela o amava por inteiro. Da sua voz até os seus grandes e estranhos olhos castanhos. Gostava da maneira como andava, de como ria, de como se comportava quando estava com raiva. Apreciava até os seus defeitos. Um dia então, ela se viu sem nada disso e por um bom tempo as lágrimas tomaram conta do seu rosto por noites e mais noites afora. Quando a ferida começou a cicatrizar, ela começou a se dar conta do que realmente sentia falta: ela gostava de quando tocava com seus dedos quentes o seu corpo frio, do seu comportamento devasso, da sua respiração ofegante, as sacanagens sussurradas, da libertinagem entre quatro paredes. Gostava da dramaticidade do ato, da sua performance, da sua entrega. Ah! Ele era um artista! A cama era um palco ou uma tela em branco e ele estava sempre inspirado. Ali não havia Shakespeare ou Pollock. Ele era insuperável em sua arte. O suprassumo do prazer. Sua rigidez era inabalável e sua desenvoltura impecável. Curioso, explorava cada centímetro do frágil corpo dela e, a cada despedida, seu corpo implorava pela volta dele. Ela só queria estar com ele. Gostava de encará-lo de diversos ângulos. Ele ficava mais bonito visto de cima. Isso quando ela estava de olhos abertos. Gostava de espiá-lo nos momentos de transe, ali ela se sentia ainda mais apaixonada. Gostava de deixar o seu homem daquele jeito. Queria sugar toda a sua energia, para que ele não se sentisse atraído por mais ninguém, mas esse feito era impossível, já que seu vigor não tinha fim. Era viril como um Deus Grego, apesar da sua aparência banal. Quando chegou ao fim, ela acreditava que faltava afeto. Agora ela sente que isso nunca existiu de fato, porém, o que manteve a paixão até o fim foram aqueles momentos carnais, que ela jamais teve com nenhum outro homem. Ela virou refém do seu próprio corpo, que o desejava cada dia mais. Ela repudiava a si mesma por pensar daquela forma, por vê-lo e por ser portar como um objeto. Mas no fundo ela não queria ser para ele outra coisa, porque ele gostava muito, mas muito do seu jeito despudorado. Sim, ele a salvou, porque ela era um caso negado e perdido, malfadada até a morte: nunca amou, nunca foi amada e, muito menos, se sentiu desejada. Também nunca havia desejado alguém com tanta fúria e paixão. Porém as paixões são efêmeras, mas o impulso da carne prevalece.
Cada encontro emerge a sensação que um precisa do outro, mesmo que por diferentes motivos. Assim será até que outro surja, preenchendo a lacuna que ainda não foi preenchida: a de fazer com que ela se sinta amada. Até que isso aconteça, ela continuará alimentando os seus instintos e realizando os seus desejos mais secretos com ele, que sequer sabe do turbilhão de emoções e sensações que causou - e ainda causa -, reflexos de atos tão imorais, porém triviais. Atos esses já conhecidos por ela, mas realizados de maneira tão obsoleta que beiravam o vulgar de tão mal executados. Ela descobriu, enfim, o prazer. O prazer da vida. O prazer de viver. Ao mesmo tempo, ela sabia que merecia alguém muito melhor.
4 comentários:
Espero que você não se esqueça de mim quando for uma Escritora famosa. O texto ficou ótimo.
Beijos!
Muito bom, amiga!
ai continuaaa... rsr... eles vão se encontrar de novo ne!!? ai to amando a história..quem nunca passou por isso na vida não é mesmo?
quero mais!! vai escreve logo!!
ê Karen, taradinha!! talvez um dia eu continue... hahaha! tenho que estar inspirada p criar essas coisas..
Postar um comentário