domingo, 6 de junho de 2010

Crônica de uma vida sem sentido.

Ainda era madrugada quando despertou. Sonhou que ele dormia ao seu lado. Olhou o celular, nenhuma mensagem. Levantou-se com a idéia de ir ao bar mais próximo, colocou seu sobretudo por cima do seu pijama - uma camisa de malha e uma calça de moletom - e desceu os três fétidos andares do seu prédio, na esperança de encontrar algum movimento na gélida calada da noite. Andou alguns metros até perceber que não encontraria nada aberto pela redondeza, mas resolveu seguir em frente, uma vez acordada ela não voltaria a ter sono tão cedo e também não gostava das lembranças que sua lucidez trazia à tona, quando estava sozinha em seu apartamento. Caminhando pela rua, asfalto úmido e escorregadio, ela tentava endender a razão de ter chegado até ali. Como consegiu chegar ao fundo do poço? Fez sinal para o ônibus e ao sentar no banco, viu o reflexo do seu rosto fino e com olheiras na janela e pensou que já era hora de tomar um rumo na vida. Os outros dois passageiros ali também refletiam o seu estilo de vida, jogados ao nada, como se o destino deles estivesse nas mãos do motorista, que os levaria ao bar mais próximo ou ao fornecedor mais barato. Abriu a janela e acendeu o último cigarro do seu maço. O bar agora era uma necessidade, pois sem cigarro, sua vida faria menos sentido ainda. Quando a fumaça da primeira tragada chegou ao seu pulmão, ela sentiu uma espécie de conforto por não estar em uma situação pior, acompanhado de uma certa tristeza, por não estar em uma situação melhor.
Ela tinha a mania de encarar as coisas em diferentes distâncias fora do ônibus em movimento: queria que a vida passasse ligeiramente como uma árvore a alguns metros do ônibus, mas ao contrário disso, ela se arrastava como a chegada de um arranha céu do outro lado da cidade.
Avistou um movimento qualquer na porta de um bar, deu sinal de desceu do coletivo. Foi até o balcão e pediu uma dose de rum. Comprou outro maço de cigarros barato e após outras doses, sentiu um certo otimismo tomar conta de si. A essa hora não existia melhor ou pior, ela se sentia no centro do universo. Sentia-se invejada pelos os que estavam ali, embora ninguém tivesse notado a sua presença. Quando ficava embriagada tinha a falsa ilusão de que a vida sem ele seria melhor, embora relutasse em voltar para casa a todo instante. Sabia que ali, como em todas as suas noites tristes e solitárias, encontraria outro que ocultaria o vazio existente em seu coração, mas que a esperança e o calor trazidos por ele, partiriam do seu quarto, no fim da manhã. Como sempre. Na inocência da sua humildade, desejava apenas um novo amor. Não queria um bom emprego ou uma apartamento maior, sem infiltrações e rachaduras. Sua vida não estaria completa sem alguém ao seu lado. Seria útopico ter todas essas coisas, então ela desejava o que considerava mais difícil. Sua obstiniação pelos bens materiais só surgiria se ela estivesse afetivamente feliz, caso contrário, ela considerava a insalubridade como a melhor forma de viver e conviver com a solidão. A embriaguez lhe tirava essa perspectiva miserável mas, ao acordar, sempre na pior das ressacas, ela desejava não estar viva. Pensava que se existisse algum Deus, não entenderia a razão dele de tirar a vida de certas pessoas e a mantê-la naquela vida desprezível, decadente. Não acreditava que tinha uma missão ou que algo melhor estava guardado para ela.
Ela acorda, olha e sacode o desconhecido adormecido em sua cama, levanta, toma uma aspirina, abre a geladeira, pega uma lata de cerveja e acende um cigarro. O desconhecido levanta, coloca sua roupa, passa por ela e diz um "tchau" constrangido. Ela não responde. Da janela observa que o bar está abrindo e, ao lado, vê que o cigarro está acabando. Ela está pressupondo que a sua noite irá começar mais cedo dessa vez.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tá ficando boa nisso Garota.Outro texto muito bom!
Beijos!

Ester Soares Formiga disse...

é você Val? hahaha

Lagartixa de parede disse...

nossa heim!! vc q escreveuu?!!! tchurururu...
qnd virar uma escritora famosa vou querer uma dedicatória na contra capa viu!!!! rsrs
amei a história..deu até vontade de beber, fumar e de dormir com um estranho.kkkkkkk....
bjksss