Eu me faço essa pergunta quase todos os dias e gostaria realmente de achar algumas respostas. Recentemente, duas pessoas ressaltaram que eu sou uma pessoa muito sincera. Até então, eu acreditava que a sinceridade era uma das características mais nobres que um ser humano poderia ter e, justamente por isso, eu não me considerava uma pessoa dotada de tamanha qualidade.
Eu passei acreditar em tais afirmações, quando senti o tom de voz ressentido dessas pessoas. Era uma coisa meio que:
- Nossa, Ester! Você é muito sincera.
E não, como eu esperava que fosse:
- Nossa, Ester! Você é muito sincera!
Entenderam?
Acredito que não, mas quando as pessoas me falaram isso, eu senti que naquele momento um certo rancor, senti que elas não queriam saber a verdade, ou pelo menos a minha verdade, elas queriam apenas que eu falasse o que elas queriam escutar.
Todo mundo, eu disse, TODO mundo mente. Eu não sou diferente de ninguém, sou apenas mais sincera que as outras pessoas. Quantas vezes, amigas super empolgadas viraram e perguntaram:
- E aí, gostou da roupa?
E eu:
- Gostei, está maneiro.
Gente, se estivesse bom mesmo, eu falaria:
- Nossa! Que linda! Está muito maneira a roupa!
A diferença é que a minha mentira é perceptível aos ouvidos e principalmente aos olhos das pessoas. A minha boca diz, mas o resto do corpo não obedece aos sinais do cérebro. Esses dias estava conversando com a minha mãe sobre a minha primeira mentira relacionada a namoradinhos. Eu devia ter uns 13, 14 anos e disse aos meus pais que ia ao cinema no shopping perto da minha casa com uma amiga. Como tinha que acontecer, meu celular ficou sem bateria e minha mãe, querendo falar comigo, ligou para a tal amiga que, inocente, me entregou dizendo que não tinha ido a lugar nenhum. Como eu era uma criança, meu pai me buscou e, esperto como sempre foi, assim que eu entrei no carro, ele perguntou:
- Ué! Cadê a Ana?
Eu, metida a malandra, falei:
- Já foi embora.
Eu já imaginava que ele fosse fazer aquela pergunta porque ele sempre dava carona a essa minha amiga e o pai dela fazia o mesmo comigo. Mas eu gelei quando ele virou e falou:
- Mas a sua mãe ligou para ela e ela disse que não tinha ido ao cinema com você.
Puta merda! Eu pensei. Mas ali eu não tive outra escolha a não ser mentir até a morte.
Chegando em casa, eu tratei logo de subir para tomar banho e não ter que repetir a história para a minha mãe - para também não cair em contradição - e, quando estou subindo a escada, minha mãe rindo, falou:
- Ester, eu sei que você está mentindo, porque quando você mente, você enfia o dedo no nariz para tirar meleca.
E não é que meu dedo estava enfiado dentro do nariz?
Bem. Eu acho que nesse dia, eu vi que a verdade pode até ser ruim, mas o pior mesmo, é sustentar uma mentira e fazer com que as pessoas acreditem nela. Na realidade, mentir é algo muito trabalhoso e elaborado. Vale mais a pena falar a verdade porque quem vai se dar ao trabalho de causar as consequências são os outros.
Depois que eu cresci, eu passei a ser mais intolerante com as mentiras porque, na maioria das vezes, elas são desnecessárias. Tudo bem se você vira para o seu chefe e diz que chegou atrasada por causa do engarrafamento, enquanto na realidade, você perdeu a hora. Isso não vai afetar em nada a vida de ninguém, é uma mentira saudável. Agora, você some dois dias no carnaval, enquanto a sua namorada te liga freneticamente e depois você diz que estava de cama, doente e ainda atua de maneira para que ela se sinta mal por não ter estado do seu lado (porque eu no lugar dela me sentiria assim), é o Ó do borogodó, amigo!
Tratando-se de relacionamentos, eu fico ainda mais chateada. Eu sempre fui liberal, nunca fui de prender namorado, nunca perguntei "posso?" ou me senti no direito de liberar "pode". Eu sou a favor da liberdade, então, se mentir para mim e eu descobrir, eu até posso dar uma segunda chance. Agora, mentiu de novo amorzinho, pode dar adeus e pegar as suas coisas, porque eu não tatuei "idiota"no meio da testa, como você pensa.
Se você tem consideração pela minha pessoa, por menor que ela seja, tente ser verdadeiro. A verdade dói? Sim, talvez uma cólica menstrual. A mentira está para um tiro no joelho.
Tem muitas outras coisas que eu gostaria de escrever, mas vou deixar isso para um outro dia. Eu poderia dizer que ia sair para beber ou dançar com os amigos, mas como eu sou "sincera" e a sinceridade é, às vezes, humilhante, eu afirmo que tenho um encontro marcado com a cama.
That's all folks
Um comentário:
nossa!! amei esse post!! me identifiquei completamente!! e boa dica sobre tirar meleca! haha..quero ver vc conseguir me enganar agora! kkkkkkk....
então..eu era assim igual a vc!! e hj me tornei a famosa "namorada yoko ono"... nem sei como me tornei essa pessoa q eu repudio!! sério!! to tentando voltar atras e ser liberal d novo!! mas eh caminho difícil!!
aiai isso vale um post! rs
bjks
Postar um comentário