- Não entendo. As atitudes dela não condizem com o que ela diz. Ela reclama, diz que vai agir de tal forma, mas quando eles se falam, ela parece esquecer de tudo e acaba passando por cima.
Sua mãe parece concordar com os olhos e ela prossegue:
- Ela me disse esses dias que eu sou uma pessoa difícil. Mas oras! Eu tenho apenas orgulho! E digo isso porque já tive sim o meu orgulho ferido. Se tem algo que eu posso afirmar é que já sofri, já chorei e já procurei. Me permiti isso uma única vez na vida e dou a minha palavra que não farei mais.
Sua mãe some do seu campo de visão. Entrou no quarto e apesar do barulho da vassoura, segue ouvindo:
- Avaliando os dois últimos anos que passaram, mãe, eu sinto como se minha vida tivesse ficado estagnada. Não guardo rancor e nem dívidas amorosas, afinal, continuo falando com eles, mas eu sinto como se eu tivesse ficado em coma durante esse tempo. Um ano para cada um. Passava os dias deprimida, chorando pelas esquinas, perdi a vontade de fazer as coisas, eu era apenas uma presença física nas aulas da faculdade.
Ela volta, fica parada na porta olhando para ela, com o braço apoiado no cabo da vassoura, como se naquele momento ela pudesse penetrar nos pensamentos - até então tão obscuros - da filha.
- Depois disso, eu prometi a mim mesma que não vou mais sofrer por qualquer homem que seja, mãe! Quem quiser, que venha até mim. Lembra a adolescente que eu era? Estou recuperando aquela confiança que eu tinha. Vou tratar cuidar da minha vida, porque ninguém pode fazer isso por mim.
- Essa é a minha filha! - esbravejou a mãe sorridente, levantando a vassoura.
Pela primeira vez ela sentiu que sua mãe sentia orgulho dela. Isso a estimulou a seguir em frente, afinal, seus pais foram os grandes responsáveis por esse pensamento de liberdade amorosa e ela muito os admirava por ter sido criada dessa forma. Enquanto esteve apaixonada e perdeu o amor próprio, ela se sentia uma filha traidora. Felizmente ela reencontrou o seu caminho, ainda aos vinte e poucos anos.
- É possível amar sem enlouquecer. O amor traz saúde e não enfermidades, mãe. Não estou desistindo dos homens, eu ainda os quero, com toda paixão desse mundo. Eu só busco honestidade neles, mas não encontro. Quando eu encontrar, por ele eu irei lutar. Eu vejo as mulheres e me sinto envergonhadas por elas. Eu me sinto desonrada, humilhada. A maioria é tão tola, mãe! Dá para entender? Me fala! Do que adianta independência financeira, se ela tem dependência emocional?
Ela senta sobre a mesa, assistindo sua mãe voltando a varrer:
- Enchem a boca para falar "Meu Namorado! Meu amor!". Sabe o que dá vontade de falar, mãe? "Minha linda, acorda! Seu namorado pode até gostar de você, mas ele não te respeita. Ele pode dizer que te ama, mas isso não é verdade. Ele me procura até hoje. Quer ver alguns torpedos no meu celular?". Eu acho isso muito deprimente, triste mesmo. Mesmo gostando, eu pulei fora quando senti que não estava sendo tratada com respeito. Eu não acredito em fidelidade, mãe. Perdoaria sim e por que não? Mas eu ficaria de olhos bem abertos e a pessoa jamais teria a minha confiança de volta. Eu acredito em ingenuidade sim, eu sou ingênua. Mas cega eu não fico. Não mesmo!
Ela subitamente interrompe a conversa e sai. Sentiu-se deprimida após o monólogo.
No outro dia acorda loucamente feliz. Ri de si própria ao olhar o espelho e falar:
- Sua bipolar!
Ela teve um sonho erótico e acordou com vontade de transar. Ela saiu, comprou brincos novos, foi paquerada pelo motorista do carro ao lado.
- Que se foda.
Chegou em casa, ligou o som dentro do banheiro e tomou um banho libertador. Música alta, ela fazia o backing vocal de "Otherside", do Red Hot Chili Peppers, como se fosse a música mais alto astral do planeta . Saiu, penteou o cabelo, colocou o novo par de brincos, vestida com short e camiseta e afirmou:
- É. Estou feliz. Eu sou uma mulher feliz.
Virou as costas e voltou para sua solidão.
5 comentários:
desprendimento, uma busca sem fim.
Legal que você voltou a escrever. E melhor ainda que escolheu um tema tão polêmico...
Beijos e Saudades.
Hauahauah!!!
Ficou ótimo Esterzinha!!! Continuo achando que a sua música é aquela da metamorfose ambulante, rsrsrs! Beijosssssssssss no core!
aceito sugestões de temas... isso aqui está muito repetitivo... vamos lá! eu sou inteligente, posso escrever sobre outros assuntos! hahaha
Então vamos lá: escreve sobre os filmes que estão concorrendo ao Oscar 2011.
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