segunda-feira, 2 de agosto de 2010

whatever.

Na vitrola, um Jazz acelerado. A sala ainda cheira a sexo. Bebe um longo gole de cerveja importada, liga a televisão e observa o repórter jorrar palavras embaralhadas acerca das infintas tragédias humanas ao redor do mundo: guerras, desastres ambientais, homicídios, política, opressão, repressão, escravidão, leis, burocracia, injustiça, cinema nacional, etc.


- Pobre sociedade infame.


Ela sai do banheiro usando sua velha camisa de malha e senta ao seu lado, esticando as pernas e colocando-as em seu colo. Bebe da sua cerveja, acompanha a notícia por alguns segundos e comenta:


- Tem alguma coisa para comer?


- Tem. Na geladeira.


Então ela levanta e caminha em direção à cozinha deixando um leve rastro do seu doce perfume no ar.


- Estou faminta. Vou fazer algo para nós.


O mundo se despedaçando e ele naquele vazio de idéias e acontecimentos. Sua existência estava restrita a ser um ninguém em lugar nenhum, ao lado de sua bela companheira, que pouco lhe acrescentava.


Levantou-se e foi buscar mais uma garrafa de cerveja. Pegou e parou para observá-la cortando rodelas de tomate. A gola da blusa, cortada, deixava seu ombro à mostra. Aproximou-se, ajeitou delicadamente a blusa e lhe deu um beijo. Ela riu, bebeu mais um pouco da sua cerveja e voltou aos tomates. Volta ao sofá e pega o jornal para ler: crise econômica, corrupção, acidentes, futebol... O filme que ele quer assistir ainda está em cartaz:


- Dessa semana não passa - pensa, tentando se enganar.


Ele sempre adia. Filmes, projetos, trabalhos, viagens, amores. Fica sempre a esperança de que um dia será. Mas os dias nunca chegam e para ele, tanto faz. Ela volta, os dois comem ferozmente. No fim, louça para os lados, pernas para cima.
Ela era mais um a sentar naquele sofá, a abrir aquela geladeira e a mexer com seus sentimentos. Provavelmente não seria a última, estava longe de ser a última. Apesar da sua racionalidade, não entendia como e porque ela conseguia deixá-lo tão irracional e confuso. Não queria isso para si, mas não conseguia se desvencilhar daquele sentimento com a proximidade dela. Pensava se ela era A mulher, sua esposa, mãe dos seus filhos. Mas oras! Ele nunca pensou em construir um lar, uma família. Estava, então, verdadeiramente apaixonado.
Olhou para ela, que limpava os dentes com a língua:


- O mundo girando e a gente parado.


Sem entender, ela respondeu, tirando a sua velha camisa:


- Então que tal sentir o mundo parar enquanto a gente se movimenta?


- Eu te amo - pensou.


E não tardariam a sentir fome outra vez.

4 comentários:

Anônimo disse...

Estou ouvindo Elvis e me deliciando com seu texto. Até que enfim hein... Estava com saudades das suas histórias. Gostei muito dessa. Conforme ia lendo, ia visualizando um pequeno apartamento antigo, com Jim e Karen dentro dele... Vou tentar transformar em Roteiro, e daí quem sabe não fazemos um curta...
Beijos!

Daniel disse...

e vc dizendo que está sem inspiração!!

Ester Soares Formiga disse...

vamossssss, anônimo!!!! de repente essa é a minha vocação! roteirista! aiai...

Ana. disse...

é uma tarada. hahahaha